segunda-feira, 20 de julho de 2009

Matei porque era legal

Matei porque era legal... Só pensei em girar a faca na hora em que eu senti o sangue na minha mão, eu posso lhe jurar que não foi premeditado. Aquele rapaz bacana, como um cara daquele podia ser tão legal comigo? Eu negro, feio e viciado. Ele era bonito, tinha casa e quando passava pela gente ainda dava boa noite... eu não entendia muito aquilo não. Eu vivo com raiva dessas injustiças, sinhô e posso lhe dizer que eu não entendi o que eu fiz não. Eu já vi na televisão homem rico que matou gente por besteira, o que eu fiz só se explica porque era legal... anteontem mesmo ele sentou comigo e enrolou um baseado pra mim, a gente fumou junto e conversou sobre muita coisa, ele falou umas coisa que não via em canto nenhum, nem presidente, nem padre, ninguém... aquelas coisas, que eu não vou falar aqui porque eu quero guardar isso pra mim, mas posso dizer denovo que não tem motivo, eu só matei porque gostava dele. Esse povo que veio atrás de mim pra fazer justiça com as mãos tavam até certo, eu não tiro a razão deles não... eu matei por causa de uma força estranha, que nem uma força que ele tentou me explicar, mas não conseguiu.

terça-feira, 9 de junho de 2009

[Temem o porvir, polvorificam suas possibilidades e as queimam com cigarros equilibrados em suas mãos errantes, com movimentos descambalidos tentam esconder, mas não conseguem.]






Ela vem com um resfriar de pedras que me dá calafrios, vem aguda e fria, come alguns biscoitos sem tocá-los e esconde seu olhar cansado. Em seu encalço vem a lua, elas não se tocam, trazem consigo metade do significado das coisas, de nossas tristezas que dá por esses horários. Enxuga algumas lágrimas, deita na minha cama, se inquieta e sai correndo de casa, "para o bar mais próximo, por favor". Estica as pernas, olha pra cima, senta na mesa e decide que não vai acender nada que lhe dê nos nervos. Espera regenerar sua angústia, seu orgulho nada vale agora e com um ar de sorriso ela ver passar a aurora. Se esconde atrás do horizonte, do esguio horizonte que condena seus erros, seus maus modos de lidar com seus problemas. Estirada em seu divã-auroradecoresvivas ela saudadifica o ambiente, em suspensão, parte das coisas ao seu redor amadurecem, cai do pé e se encontram trêmulas em suas cadeiras, sem respostas para metade de suas perguntas. Ao redor dela tudo se desfaz em falta, em pré-ausência, inclusive aquelas pessoas que falam alto na outra mesa sabem do que estou falando: ela nos deixa um ar contemplativo e uma beleza estranha, difícil de explicar, sem resposta até para uma simples saudação. "Boa tarde ou boa noite?", dera todo mundo buscasse a resposta através dEla.













domingo, 15 de março de 2009

Falei a ela que chegaria mais tarde, ia esperar que o sol desse seus últimos lampejos vespertinos e, baseado naquele fim de tarde, ia depurar o que deveria continuar entre eu e ela. Se minha paciência fosse infinita e meus julgamentos não se baseassem em erros alheios não sentiria a necessiadade daquele fim de tarde. Quando a noite trouxer o que deve ser eu vou voltar e acatar a minha decisão, vou ser justo com a única pessoa que mereça minha fidelidade: eu mesmo.


Fui àquele pôr do sol munido de duas pêras e uma dose de amor que me faltava, a graça de sentir-se mal amado é que tudo pode ser engraçado de uma hora pra outra, depende da forma que você busca enxergar a situação.


Na primeira pêra eu já sabia o que dizer a ela, por isso que a comi tão devagar, tava demorando a acreditar. Essas coisas de sentimento... lembrança... não resistem a um fim de tarde.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

"Bom amor.."

saiu de casa balançando os braços e a preguiça que quis o deixar dormindo mais um pouco estava em seus passos lentos. Menino magrelo, face apática. Parou no carrinho e comprou uma tapioca, "com queijo por favor", ainda por cima um café e dois copinhos, ele esfriou colocando o conteúdo de um copinho para outro repetidas vezes. Café morno e a boca do menino branca de leite de coco, apressou o passo por causa do café, engoliu a tapioca sem muita dificuldade, passou a mão na boca, no cabelo, repuxou a camisa sem estampa para baixo e bateu a porta daquela casa no início daquela rua. Como de praxe naquele ano, o menino, exatamente as 17:15, escolhia uma rua aleatória para entregar seus cartões coloridos para quem atender a porta. Como o garoto sabia que não podia melhorar a vida de todos e também por ter consciência de seu escasso dinheiro, o menino produzia cartões suficientes para cada pessoa que atender a porta de cada casa em cada rua que ele escolhesse, com mais algumas palavras o menino desejava "bom amor" ao seu ouvinte que as vezes vinha de mau humor. Nada como um bom desejo pra melhorar o dia de alguém, e o menino tinha esse costume de querer melhorar o dia das pessoas a sua maneira e fazia disso seu prazer de fim de tarde.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Recortes de fim de tarde.

e de tarde
e benfica
e cai a tarde
no benfica.
meu bem
quem bem fica
não precisa ir embora
na melhor hora,
essa em que
choram homens
mulheres e meninos,
eu bem vou ficar
pra esperar o sol se
posicionar
entre mim e o horizonte
e esse pesar gigante
que faz a gente quase parar
pode cair, ir embora
quando a gente pensar
que a hora é de amor.
é agora
quando o sol alaranjar.
vou falar ao padeiro
que ele tem que cortar aquele bigode
e o futuro é pra quem pode
em nada pensar
quando a aurora virar
minha cabeça
dentro de mim
eu sempre vou pensar
nas respostas que nem estão por vir
e que inquieta
quem se diz poeta
numa completa
quebra
do turbilhão
do pensar difícil
do meu sifílico modo de enxergar,


a minha saudade...


vem com aquele sol se pondo...



.


Eu sempre me pergunto...



e nunca me respondo.



Sei que erro o erro dos humanos, mas nunca me sinto parte deles...


nessa hora, que a terra cora e Caetano canta pra não morrer de tristeza

é na sutileza que eu escorrego.


Se eu erro e não nego


é porque me entrego


ao alaranjado daquele sol,
à distância entre mim e o horizonte,


ao findar a tarde
vou ter esperança nas noites frias e solitárias
fazendo do clichê um detalhe,
da vida uma incerteza


vou depurar o tempo,
pra que ele nunca me pese sobre as costas.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Anoitece

Subindo as escadas côncavas pela cerveja vespertina, se fosse deixar de viver meus momentos com amigos por causa de lembrança mau resolvida já teria virado tapete de asfalto. Essa tarde veio me dar uns anos a mais de vida. Vim cantando do bar até em casa, ainda tive sobriedade para dar boa noite a vizinha que sempre me cumprimenta com seu sorriso amarelo, esses tipos de lembranças recentes são úteis ao meu estado de espírito e enquanto subo as escadas que parecem de borracha, ocupo minha mente pra não pensar naquela pessoa.
Essa noite terei sonhos ou terei pesadelos? Se é para haver noites, que elas aconteçam com toda sua essência de mistério. Que eu veja o pôr-do-sol com pesar, que eu me sinta uma caça e me veja como alguns milhões de anos atrás, onde o instinto fazia o humano temer a noite que viria e que em minhas reflexões só quem teme e respeita a noite pode estar vivo. Eu aqui me ponho por inteiro distraído e mal amado. Pouco apreensivo ascendo um cigarro e penso na pessoa, a fumaça escreve na penumbra o que eu queria ser, fugaz... o cheiro de cigarro e o sal do meu olho fazendo o ar em suspensão, sem cor, dentro desse quarto escuro, minha noite será.